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Aline Leonhardt: jovem de Aurora realiza o sonho de levar informação a agricultores de todo o país
Aline Leonhardt: jovem de Aurora realiza o sonho de levar informação a agricultores de todo o país
Sucesso S/A: Quem é a Aline Leonhardt?
Aline Leonhardt: Eu nasci no interior de Aurora/SC. Assim como meus avós, meus pais casaram e transformaram um terreno cheio de mata nativa em sustento para a família. A gente se criou meio raiz - que é o termo que define hoje. Pé na terra, mão na enxada, carrinho de correr morro, bicicleta sem freio. Lembro que desde os quatro anos já ajudava minha mãe a tirar leite, de uma vaca que o nome era estrelinha.
Sucesso S/A: Como era a rotina na infância?
Aline Leonhardt: Na roça, nos criamos plantando cebola, depois também fumo, e em paralelo a isso sempre tinha milho ou feijão que completava a renda na safrinha. Além do gado de leite que dava pra gente o leite e seus derivados, como queijo, nata e carne, sempre tínhamos também plantação de aipim, batata-doce e cará - para o pão de milho, e diversos tipos de frutas no quintal. Entre eles, um pé de tangerina que era o meu favorito. Ele era meio torto, e por isso, sempre tinha mais fruta para um lado. Nos Invernos, quando não estava na escola ou trabalhando nos afazeres do sítio, era lá que eu sentava pra pensar na vida. Tudo isso descascando e enchendo a barriga de uma dezena delas. Em tempos em que a informação chegava apenas pelo rádio ou TV, não eram poucas as vezes que me pegava imaginando o dia em que seria notícia, no Globo Rural de preferência.
Sucesso S/A: Já pensava em cursar faculdade de Jornalismo?
Aline Leonhardt: Nossa vida de roça nunca foi fácil. Um mês depois da formatura do terceiro ano, um temporal de granizo destruiu toda a nossa safra. Para nós, a faculdade nunca foi uma opção - sempre uma, digamos, determinação dos nossos pais. Eles sempre quiseram que os filhos tivessem o futuro que não tiveram (pra eles, estudar não era uma escolha). Passei quatro anos estudando para trabalhar em jornal, que lá por 2007 era o meio mais popular da região. Quando me formei, a oportunidade de trabalhar em TV caiu bem de paraquedas, quando uma amiga me perguntou se tinha interesse e eu pensei: porque não? Mas não sabia nem segurar o microfone.
Sucesso S/A: Já iniciou trabalhando na área de agricultura?
Aline Leonhardt: O setor de agronegócio chegou como uma veia natural. Se você entende, surgem as pautas, e na hora de fazer você sabe como falar. Em 2014 saí de repórter do programa, para a apresentação. Que sonho! Dar as ideias de reportagem, gravar, e ver o resultado no ar. A paixão nos olhos passava para as reportagens. Da minha vizinhança saiam muitas ideias, e aos poucos, o programa foi ganhando uma personalidade. A internet surgiu praticamente junto com isso, quando criei uma página para ir postando estas reportagens. Na época não havia muito conteúdo. Rede social era apenas para compartilhar vida pessoal e os sites, para as notícias.
Sucesso S/A: Como surgiu o Vale Agrícola?
Aline Leonhardt: Só que nos anos seguintes, tudo foi mudando. A internet começou a figurar como fonte de informação e as reportagens passaram a ter mais abrangência pelas redes sociais do que na própria em TV. Por isso, em 2018, com 190 mil seguidores, decidi criar o Vale Agrícola, um programa apenas para a internet. Como não existia nenhum outro, não foram poucas as pessoas que duvidaram que isso desse certo.
Sucesso S/A: E quando você sentiu que deu certo?
Aline Leonhardt: Se deu certo rápido? Não. O primeiro ano inteiro passei no vermelho. Imagina alguém bater na porta da empresa e dizer que quer patrocínio para trabalhar para a internet. Se hoje está cheio de influenciadores digitais, há dois anos era diferente. Lembro até que um dia desses, depois de fazer um empréstimo no banco para pagar as contas, e bem desanimada, eu pensei: que se isso não fosse pra mim, e não fosse para dar certo, que Deus tirasse do meu caminho. Por mais que fosse um sonho, de nada adiantam mais de 300 mil seguidores e nenhum dinheiro na conta. Coincidência ou não, poucos dias depois o Facebook anunciou a abertura da criação de conteúdo no Brasil. E em um dia só, também, três empresas solicitaram cotação de patrocínio.
Nesta época eu usava meu carro particular, filmava as reportagens, entrevistava, fechava texto, apresentava e ainda postava nas redes. Era um programa de 40 minutos, feito por uma pessoa só. Como dava certo? Nem eu sei.
Sucesso S/A: E você montou uma equipe? Quando sentiu que precisava de ajuda para o programa continuar crescendo?
Aline Leonhardt: Como criadora de conteúdo do Facebook e Youtube, comecei a ter uma renda fixa, e assim, comecei a investir em conteúdos ainda melhores. Desde o dia da oração não precisei ir mais atrás de nenhum patrocinador. Eles começaram a ligar, e eventualmente, comecei a fechar boas parcerias. Demoraram quase 365 dias para que eu começasse a sobreviver do programa, e já na sequência, comecei a contratar ajuda.
Nossa prioridade sempre foi o simples. As histórias de antigamente, a tradição que nos trouxe até aqui, os sabores da nossa terra. Quando me perguntam qual é o segredo, eu digo que não tem. Peca quem tenta colocar firula demais. Quanto mais simples, melhor. Se tiver novidade, estamos de olho, e compensa quando ouvimos histórias de gente que mudou de vida inspirados por alguma de nossas gravações. E se fosse uma pessoa só, tudo já teria valido a pena.
Sucesso S/A: E você acha que chegou onde queria?
Aline Leonhardt: Hoje, dois anos e pouco depois da decisão mais louca da vida, o Vale Agrícola está chegando ao milhão de seguidores. É apenas uma pequena porcentagem dos mais de 20 milhões que assistem aos vídeos regularmente, mas não se inscrevem ou curtem a página, mas ainda assim, é um milhão. Em 2020 veio também outra importante conquista: o convite para exibir o programa em rede nacional, pela TV Brasil.
Hoje somos três pessoas e não são poucas as vezes que comparam o trabalho ao programa que quando criança eu tanto admirava. Nestes dias, eu apenas agradeço. Ainda falta muito para que a conta bancária siga a audiência, mas tem recurso o suficiente para ir ampliando os horizontes, chegando mais longe. Sempre sem dar o passo maior do que a perna, e sem perder o que temos de essência.
Em Invernos como este, e em tempo das tangerinas, de vez em quando me pego de novo olhando aquele pé. Lembrando-me das horas que passei lá, dos planos. A bergamota ainda tem o mesmo sabor, e a ideia ainda é a mesma: Ser o retrato da agricultura que está no nosso quintal.
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