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As flores, o amor e a minha mãe
As flores, o amor e a minha mãe
Hoje acordei com mais uma foto no WhatsApp. É uma foto que vem de longe, mas de um lugar que eu conheço bem. É da casa em que cresci. É da casa que ainda tenho como referência de porto seguro. É da casa dos meus pais. Que tem o cheiro da comida da minha mãe. Por acaso, a foto de hoje é de uma orquídea que dei de presente para minha mãe de dia das mães. Faz algum tempo que presenteio a minha mãe com flores. Pra mim, as flores são a melhor oferta quando a gente quer presentear alguém que ama. Flor é vida. Tem cor. Tem cheiro. Tem a surpresa de amanhecer e ver que o botão abriu. Que está florido. É uma alegria que invade. Uma casa sem jardim é uma casa sem vida. É como uma cozinha que não cheira a comida. Mas estou dizendo tudo isso porque quero falar de outra coisa. É do modo como a gente encontra para se comunicar com quem amamos. É quando a gente adapta a linguagem para dizer. Encontra formas para expressar. A minha mãe tem me surpreendido ao me estender este amor. De vez em quando ela fotografa uma flor que acabou de abrir e me envia. Ela não precisa me dizer mais nada. Ela geralmente não diz. Apenas envia a fotografia. Tornou-se um hábito entro nós. É sempre uma surpresa. Me arranca sempre um sorriso. Daqui, do outro lado do oceano, onde está frio e todas as folhas insistem em cair por conta do outono, receber este anúncio de primavera vindo da minha mãe é uma emoção que me faz encher os olhos de lágrimas. Às vezes eu choro olhando para a beleza das flores. É um choro de alívio. Não é o mesmo que ter apenas o coração apertado de saudade. Eu sei que as flores estão abrindo. Eu sei que o jardim está colorido. Eu sei que a minha mãe também está bem. É por conta das flores que hoje sei que minha mãe está viva e pulsante, também. E é por conta, ainda, do amor que aprendemos a comunicar sem nenhuma palavra. Quando ela me envia uma nova flor, eu sei que ela está me dizendo muitas coisas. Também diz a minha mãe por conta das flores que ela acredita em mim. Que ela suporta esta distância porque sabe que este momento é importante na minha caminhada. Ela compreende sem compreender. E por isso me fortalece. Mais uma vez, sem dizer palavra alguma. É assim que a minha mãe me enche de força para também eu poder florir. Para também eu poder sentir as pétalas da minha vida se abrirem. Ela não poderia dizer sequer palavra alguma que fosse ter mais significado para mim neste momento. Não sei exatamente como explicar o amor. Mas estou aprendendo a senti-lo. E ao mergulhar nesta possibilidade, compreendo sem falar palavra alguma também, que não é preciso ter teoria nenhuma acerca do amor. O amor é para ser sentido. O amor é para servir de impulso. O amor é para nos dar coragem. O amor é para nos ensinar que temos este combustível dentro de nós e que sem ele a vida não tem o significado que poderia ter. Eu amo a minha mãe em cada nova flor. Em cada nova cor que ela me estende como surpresa. Eu amo a intensidade que a vida pode ter quando também nos abrimos para amar. Porque aprendemos muito sobre nós mesmos quando conseguimos comunicar assim. Quando o amor é a nossa capacidade de sentir o milagre da vida. Amar é uma imensidão de coisas. Hoje, por conta da minha mãe e das suas flores, quero dizer, embora nem fizesse falta proferir algum som, que o amor é ainda uma nova invenção do ato de amar. Vou sentir esse amor cada vez que aqui, tão longe de casa, um botão de flor se abrir. Também eu agora abraço as flores de cá. É tudo por conta do amor. Em todas elas está um pouco da minha mãe. Independente da estação do ano, minha mãe, a partir de agora vai morar em todas as flores. E há em cada novo brotar muito mais amor para sentir. E para espalhar.
Carmen Marangoni
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