Carolina Pavão: uma trajetória visionária na advocacia e no empreendedorismo
Estamos muito além de uma crise mundial econômica e de saúde. O isolamento social preventivo exigido para contenção do novo coronavírus, o Covid-19, está forçando as pessoas a “pensar fora da curva” para não pararem suas atividades. Como consequência, além de uma forte recessão, teremos uma transformação cultural profunda decorrente de toda essa crise.
Semanas de Moda são canceladas, desfiles e feiras de vestuário são adiados. No Brasil, eventos como São Paulo Fashion Week, Agreste Tex, Novo Brás e Minas Trend suspenderam suas atividades. No mundo, desde o famoso e inspirador festival musical Coachella até a plataforma de negócios Kingpins, também realizaram o cancelamento oficial de suas agendas.
O planejamento das coleções não está sendo conduzido da forma convencional. A maioria dos bens de consumo de moda são produzidos na China, país de origem da doença. Bens esses, que usam derivados de petróleo, como plástico e poliéster em sua manufatura. Em breve, as prateleiras que expõe produtos com esta origem estarão mais vazias sentindo os efeitos da quarentena do país.
Desde que a China entrou em regime de isolamento social e contenção da doença, segundo dados de divulgados em jornais como The New York Times, The Guardian e CNN, o mundo passou a emitir uma quantidade radicalmente menor de CO₂. É como se tivéssemos retornado anos de descaso, e esta notícia nos faz pensar o quanto as metas de redução de emissão de gases na atmosfera são, de fato, difíceis de se alcançar. Muitos dos bens que consumimos, incluindo modelos de marcas de jeans nacionais, mantém suas salas de desenvolvimento em território nacional, mas enviam suas peças para fechamento no país asiático.
Somado à isso, ninguém está planejando eventos coletivos no momento. E se no Brasil pensamos nessa pausa como algo breve, em outros países ela já se estabelece com uma demanda por um tempo bem mais longo. Sem dúvida, quem vivencia o isolamento sai modificado de tal experiência. E quem vive deste tipo de receita, está se obrigando a repensar sua própria estratégia.
É incontestável que todas essas “interrupções” trarão impactos profundos e recessão na economia. Mas também é consolador prever que o isolamento e o trabalho independente, que está sendo forçado a se tornar prática, irá modificar profundamente a mentalidade das pessoas e dar visibilidade à pequenas soluções.
Trabalhos remotos, que em muitas companhias são possíveis de se aplicar, mas não são adotados devido ao apego aos formatos tradicionais, atualmente estão assumindo a importante missão de manter as atividades de muitas companhias. Cada passo do consumo, precisa ser validado por uma necessidade real. Todo deslocamento entre cenários é julgado e questionado, tendo como juíz a consciência individual e seu impacto na coletividade.
Li Edelkoort, especialista em previsão de tendências, endossa esse ponto de vista em entrevista ao site Dezeen. “Estamos entrando maciçamente em uma quarentena de consumo, onde o impacto do vírus será cultural e crucial para a construção de um mundo alternativo e profundamente diferente”, anuncia.
Segundo a pesquisadora de tendências holandesa, “o coronavírus vai oferecer uma página em branco para um novo começo”. De acordo com ela, a pandemia liderará o mundo para uma recessão global de uma magnitude que jamais foi experimentada antes. Contudo, também irá permitir que a humanidade reavalie seus valores.
“Estamos entrando em quarentena de consumo em massa, onde vamos reaprender como ser felizes com um vestido simples, redescobrindo nossas antiguidades prediletas, lendo um livro esquecido, cozinhando um banquete para deixar a vida mais bonita”, ilustra Li, ao explicar o fundamento das transformações culturais que estão por vir.
“Não estamos diante apenas de uma crise econômica mas também de uma crise disruptiva”, defende. “As pessoas vão parar de se deslocar, parar de consumir, deixar de ter finais de semana em eventos culturais, e vão deixar até mesmo de ir à igreja”, explica a pesquisadora.
De acordo com Edelkoort, no contexto do Covid-19, uma das principais mudanças comportamentais será uma conduta mais auto-suficientes atenta por parte das pessoas. “Acho que devemos ser muito gratos pelo vírus, porque ele pode ser a razão pela qual sobreviveremos como espécie”, opina.
Como os sites climáticos tem noticiado, do ponto de vista ambiental, é inegável que o planeta está tendo um benefício. Sobrepor cada atitude individual ao coletivo antes de validá-la como realmente necessária e assistir as mudanças desta mudança de conduta, promete ser uma experiência mundialmente transformadora.
Perguntada sobre os principais impactos do Covid-19 na indústria como um todo, Li Edelkoort explica que vê a concretização de uma de suas previsões de tendências mais cedo. Intitulada "The Age of The Amateur” (A Era do Amador, em tradução livre), a pesquisadora prevê o retorno da manufatura artesanal, da produção local, das feiras de rua, dos mercados em fazendas e a predominância da estética manual.
A expectativa é que as medidas de contenção no Brasil e no mundo tenham sucesso o mais breve possível. E não apenas na eliminação do vírus, com o mínimo de prejuízo à saúde e à economia dos países. Mas na substituição da epidemia do Covid-19 por um surto benéfico e contagioso, de soluções favoráveis para o planeta, para a economia e para o estilo de vida e bem estar das pessoas.
Fonte: Guia JeansWear | Foto: Reprodução