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O futuro das feiras é virtual?

O futuro das feiras é virtual?

A pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, está encorajando as feiras profissionais de têxteis e vestuário a considerarem modelos virtuais e outras alternativas, em um cenário onde diversos eventos pelo mundo já foram adiados ou cancelados. Até aqui, Texprocess Americas, Kingpins e Pitti Uomo já anunciaram iniciativas digitais.

“Isto está mudando toda a dinâmica, sobretudo para as feiras de equipamentos e maquinaria”, afirma Michael McDonald, presidente da SEAMS, a associação de produtos de costura dos Estados Unidos, ao Just Style. “Todos estão procurando feiras online, conferências digitais ou tours em vídeo”, acrescenta.

McDonald esteve envolvido na decisão de adiar a feira Texprocess Americas, uma organização da Messe Frankfurt com a SPESA (associação americana dos fornecedores para a indústria de confeção) que iria decorrer em Atlanta, de 22 a 24 de maio, e foi adiada para 15 a 17 de dezembro. Os organizadores estão considerando a possibilidade de usar vídeos e outras tecnologias online para mostrar os produtos dos membros da sua associação. Contudo, tal medida será um desafio – incluindo ao nível de recursos financeiros – uma vez que o fenômeno das feiras virtuais é novo.

“Pode custar de dois mil dólares a dezenas de milhares de dólares, dependendo do tipo de software que planeje usar”, aponta o presidente da SEAMS. “Se fizermos vídeos no YouTube, custa quase nada, mas uma feira virtual pode causar muitas despesas”, sublinha.

Michael McDonald está atualmente discutindo com os membros da associação para saber como poderiam recriar partes da Texprocess Americas de maneira online. Parte do esforço está na interação com produtores de vídeo em cidades como Atlanta, Nova Iorque e Miami.

Dependendo das conclusões, a organização pode optar por agendar “mini-feiras” que terão máquinas de corte e de costura em um dia e programas de gestão de ciclo de vida (PLM) em outro.

Em alternativa, a SEAMS pode também lançar uma feira virtual piloto nos próximos meses, dependendo da forma como o vírus se desenvolva nos EUA, onde alguns responsáveis de saúde pública esperam que a pandemia fique controlada até o verão do hemisfério norte, evitando mais perdas econômicas.

“O nosso objetivo é ainda ter a feira, em dezembro ou outra data”, destaca McDonald. “Provavelmente teremos algum componente virtual para diminuir a distância até que uma feira física possa ser montada”, completou.

Moda adere ao online

Outros eventos, como a feira britânica de sourcing Make It British, estão se adiantando e a lançando versões virtuais numa altura em que o mundo está de quarentena para combater o vírus, que já infetou mais de 429 mil pessoas e quase 19.200 mortos.

“Sabemos que agora as pessoas, mais do que nunca, precisam de produtores britânicos. Por isso estamos a planear a Make It British Virtual Expo, que será realizada online no final de maio”, anuncia Kate Hills, fundadora do evento.

Kate Hills afirma que a versão online da Make It British irá ser equivalente à edição física, com as mesmas conferências, reuniões de networking e workshops. “Cada expositor terá o seu próprio stand virtual, que poderá gerir durante a feira com a utilização de uma webcam que pode ser ligada a qualquer computador”, refere em comunicado.

E há até vantagens, garante a fundadora da feira. “Os expositores serão capazes de mostrar uma gama maior de produtos e incluir mais pessoas das suas equipas do que seria possível de outra forma”, aponta.

Kingpins

Da mesma forma, a Kingpins Amsterdam está a substituindo o evento físico de abril da sua feira de suprimentos denim por uma versão online nas mesmas datas. A feira ocorre entre 22 e 23 de abril, com a transmissão online em direto de painéis, entrevistas, conteúdo de expositores (como a apresentação de novas linhas e de iniciativas de sustentabilidade e de responsabilidade social), conversas casuais e mais.

“A Kingpins24 é a nossa tentativa de juntar a indústria de denim, mesmo quando somos forçados a estar separados”, justifica a organização.

O evento pode ser visto através do website da Kingpins, com acesso gratuito aos eventos e conteúdo on-demand. A apresentação das tendências para o Outono-Inverno 2021/2022 também passará várias vezes por dia.

Já a Pitti mantém, por enquanto, as edições de junho das feiras de homem (Pitti Uomo) e criança (Pitti Bimbo), mas a organização, a cargo da Pitti Immagine, garante que as edições físicas serão apoiadas pela plataforma digital e-Pitti Connect, que irá oferecer “interação remota”.

Em comunicado citado pela Drapers, é indicado que embora estejam empenhados em manter as datas da Pitti Uomo. “Estamos, efetivamente, trabalhando em uma base dupla, física e digital, com serviços inovadores e complementares para aumentar a eficiência das relações entre empresas e compradores”, apontou. A primeira edição da feira está marcada para os dias 16, 17, 18 e 19 de junho em Florença, na Itália

Uma tendência global

Estas mudanças surgem no momento em que muitos eventos foram adiados ou cancelados em termos mundiais. A suspensão da Feira de Cantão, em Guangzhou, na China, que deveria acontecer em abril e maio, deixou muitas marcas e varejistas, especialmente americanos, nervosos sobre como irão encher as prateleiras das suas lojas no próximo ano.

A Shanghai Fashion Week, que se deveria acontecer em fevereiro, foi adiada sem data definida, deixando 1.200 marcas de moda sem compradores. Com outros eventos semelhantes cancelados em Nova York e Londres, os organizadores de desfiles estão procurando formas de migrar os eventos para plataformas digitais.

Shanghai Fashion Week no Tmall

A própria Shanghai Fashion Week foi relançada esta semana em formato digital, com transmissão no Tmall e na plataforma Taobao, da gigante Alibaba, com mais de 150 marcas e designers de todo o mundo, incluindo a americana Diane von Furstenberg.

“Para esta edição da Semana de Moda de Xangai, integramos algumas das tecnologias mais avançadas do Alibaba para oferecer uma experiência nova e de alto nível aos consumidores”, garantiu Mike Hu, diretor da divisão moda, luxo e bens de grande consumo do Tmall, citado pela Fashion Network.

Ketty Pillet, vice-presidente de marketing na tecnológica Gerber Technology, espera que as feiras online ganhem notoriedade nos próximos meses, numa altura em que diversos governos estão proibindo interações sociais para conter o Covid-19 e o seu impacto na economia mundial, onde já se prevê uma recessão. “Como estamos a ver um ano sem feiras, estamos colocando em curso estratégias como eventos digitais e experiências como desfiles transmitidos diretamente no Facebook e no LinkedIn”, revela.

O início da era digital

Pillet antecipa uma era em que os contratos de sourcing serão estabelecidos online, se forem colocadas em prática a mudança correta nas estratégias de gestão. “Vejo pelo menos 30% das feiras atuais sendo realizadas online, com o atual cenário mundial (com o Covid-19) impulsionando isto”, afirma.

Já Steve Lamar, CEO da American Apparel & Footwear Association, concorda que mais feiras virtuais estão sendo trabalhadas, mas não prevê que isso se torne o novo normal.

“Muitas pessoas vão analisar se conseguem fazer mais coisas virtualmente usando a tecnologia que existe agora e desenvolvendo novas abordagens. Mas à medida que a crise passe, vamos ver muitos eventos físicos”, acrescenta.

O responsável questiona mesmo se o digital pode substituir o físico no que diz respeito a tecidos e vestuário. “Em certa medida, é difícil substituir a interação pessoal, a análise física de amostras e o networking dos eventos físicos”, acredita.

Fonte: Guia JeansWear | Foto: Reprodução

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