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Apesar do crescente número de marcas que incorporam materiais reciclados nos seus produtos e do recente movimento para um consumo mais consciente, o desperdício têxtil pós-consumo continua a ter dificuldade em encontrar um mercado adequado à preservação do seu valor.
Um novo estudo do Fibersort Consortium – o grupo de stakeholders da indústria têxtil que esteve por trás da primeira tecnologia automatizada do mundo capaz de separar grandes volumes de têxteis pós-consumo com base na sua composição – identificou diversas barreiras sobre o reaproveitamento do desperdício, que vão desde constrangimentos socioculturais à legislação regulatória.
Só o noroeste da Europa gera 4,7 milhões de toneladas de desperdício têxtil pós-consumo anualmente, e o problema está ganhando dimensão em ritmo acelerado, dadas as práticas correntes de consumo e de descarte, que estão a encurtar a vida útil dos têxteis que entram no mercado.
A título de exemplo, um indivíduo nos Países Baixos se desfaz, em média, de 40 peças de vestuário por ano. Contudo, menos de 1% dos têxteis produzidos são atualmente reaproveitados no processo produtivo de novos artigos – e cerca de metade é transformada em matéria-prima de valor inferior (downcycling), incinerada ou colocada em aterros.
Os principais obstáculos que se colocam à reciclagem de valor acrescentado incluem a dificuldade de separação de misturas de fibras, a inadaptabilidade das tecnologias de reciclagem disponíveis, a escassez de incentivos para desenvolver novos avanços nestas tecnologias e a falta capacidade de absorção dos produtos de conteúdo reciclado por parte da procura de mercado.
Desempenho aquém do potencial
Apesar do setor da reciclagem viver um crescimento exponencial – entre 2014 e 2019, o número de fábricas com certificação Recycled Claim Standard aumentou nove vezes e aquelas certificadas com o Global Recycled Standard subiram 360% – apenas um terço consegue processar mais do que uma composição de fibras.
Cerca de 60% das empresas de reciclagem usam tecnologias mecânicas, que exigem a separação por cores e a remoção física de acessórios, o que resulta numa "baixa viabilidade financeira" e fraca paridade de preço dos produtos reciclados comparativamente às matérias virgens, argumenta o estudo.
"A maior parte da reciclagem química continua a processar-se numa escala piloto, excluindo o desperdício têxtil pós-industrial para determinados materiais, como a poliamida", acrescenta.
Neste sentido, o denim representa a grande exceção à regra. A indústria incorporou fios de algodão pós-consumo reciclados mecânica e quimicamente nas suas coleções e, agora, os jeans contêm uma média de conteúdo reciclado que varia entre os 15% e os 40%.
"A consistência de tecidos de denim garante um menor grau de incerteza relativamente à sua composição durante os processos de reciclagem, embora a triagem de fibras continue a ser essencial para identificar elevadas percentagens de matérias-primas que não sejam algodão, como o elastano ou o poliéster", escrevem os autores do estudo, destacando colaborações com marcas como Mud Jeans e Recovertex, Evrnu, Levi Strauss, G-Star e Artistic Milliners.
No fundo, um dos grandes desafios à reciclagem está associado à falta de rastreabilidade da maioria dos têxteis, cuja composição pode ameaçar a segurança do produto devido à contaminação química. O estudo reforça que é "extremamente importante" que os têxteis reciclados cumpram as listas de substâncias restritas (RSL) das marcas e produtores, o Regulamento REACH 2020 da União Europeia e as listas de substâncias restritas da ZDHC (Zero de Descarga de Produtos Químicos Perigosos, em tradução livre).
"Assim, a rastreabilidade dos materiais e componentes pode ser identificada como uma prioridade à sua reintrodução no mercado", enfatiza.
Deste modo, o Fibersort Consortium prevê que haja ainda um amplo espaço de oportunidades para expandir a reintrodução de têxteis reciclados, o que se reflete, aliás, no crescimento acelerado das unidades e tecnologias de reciclagem, na subida do número de empresas de produção certificadas e no aumento da quantidade de marcas que têm vindo a apostar neste tipo de oferta para as suas coleções.
"No entanto, ainda há margem para avançar com mais investigação, desenvolvimento e projetos piloto, de modo a compreender e eliminar as barreiras que subsistem relativamente à reciclagem de têxteis pós-consumo", conclui.
Fonte: Guia JeansWear/Portugal Têxtil | Foto: Reprodução